E pensando bem, pensei eu, alguns minutos depois, não se trata bem de mentir. Repeti-o para mim várias vezes. Não se trata de enganar ninguém, porque, pensei eu, todo o edifício emocional da velha Europa fez-se afinal de boca em boca, de festa de Natal em festa de Natal, e uma civilização construída num chão tão inquieto, como a nossa, tão movediço, precisa a todo o momento, depende, aliás, da mais imperceptível deturpação, da liberdade pequenina, que segure a torre para sempre instável. Em permanente desequilíbrio, pensei eu. Viva. Nós somos destruidores de histórias, historicamente, porque, caso contrário, não as poderíamos contar, para sempre. Não se trata bem de mentir, conscientemente, pensei eu, trata-se de correr o risco de dizer a verdade. Repeti-o para mim várias vezes. Parece-me sólido o bastante, pensei eu, como argumentação, pensava eu, enquanto assinava o contrato. Enganei-me a assinar.
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