21.6.11

a biblioteca de vozes

Conduziram-me depois ao meu gabinete nos andares subterrâneos. O ar era seis partes pó, os móveis, tudo, parecia que estava tudo preso ao chão por uma camada de tempo. É assim nas caves de todos os museus, disseram-me, o tempo, disseram-me, tem de se guardar em algum sítio. Senti um leve desconforto atrás do nariz. Foi então que me disseram finalmente o que eu era para fazer, que era ouvir, analisar, oportunamente catalogar, uma extensa biblioteca de vozes, que nos tinha ficado do último saque que fizéramos à memória ocidental. À memória acidental, disse eu. Corrigiram-me logo, não, disseram-me, ocidental, memória ocidental, do ocidente. Eu sei, eu ouvi bem, disse eu, estava só a prever a possibilidade do erro, de ouvir mal as vozes, estava a brincar, no fundo, disse eu. Nesse caso, disseram-me, agradecíamos que não o fizesse, disseram-me, o assunto é sério. Naquele momento espirrei.

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